Sexo não ameniza carência, diz sexóloga
Em seu livro Fazendo Amor com Amor (Editora Rosa dos Tempos)¸ a terapeuta sexual americana Dagmar OConnor questiona se fazemos sexo ou amor. E mostra, em diálogo imaginário, a diferença entre homens e mulheres. O homem pergunta: "Foi bom para você?". A mulher responde: "Não foi mal". "Só não foi mal? Eu estava certo que você tinha dito...Sabe?" "Um orgasmo? Tive dois" "Ótimo! Então o que há de errado?" "Só que me sinto vazia. E mais sozinha do que antes de começarmos". "Que tal começarmos de novo?", propõe ele.
Fazer sexo é uma maneira perfeita de reprimirmos nossos sentimentos mais profundos e, ao mesmo tempo, fingirmos afeto. Podemos fazê-lo com entusiasmo, carne contra carne, alcançar orgasmos retumbantes e convencer-nos de havermos estabelecido contato intenso e íntimo um com o outro.
A maioria de nós, porém, não se deixa enganar por muito tempo. Percebemos, em geral, que falta alguma coisa fundamental e nos sentimos isolados, emocionalmente carentes e sós. Homens e mulheres dizem ficar "entorpecidos" com os parceiros.
Concentrar nas sensações genitais e no clímax, proporcionar gozo mútuo e terminar o mais rápido possível – diz Dagmar OConnor – priva-nos do melhor. Quando nos tornamos capazes de acariciar lentamente o corpo um do outro, da cabeça aos pés, quando procuramos despertar um ao outro, lentamente, em vez de passar rápido ao próximo "estágio", o torpor cede lugar à sensação de prazer e as fronteiras que nos separam começam a cair.
Os encontros corporais normalmente são centrados na relação sexual. As carícias preliminares são um dos melhores momentos para serem degustados. É a hora dos beijos brincalhões, ternos ou apaixonados, sobre todo o corpo e de carícias excitantes ou apaziguantes no rosto, na nuca, nas costas.
Na relação homem/mulher em seu estado íntimo e profundo, o jogo do amor é o jogo das mãos. Existem pessoas, entretanto, que não gostam de dar nem de receber carícias. Não podemos dar aquilo que não recebemos. O fato de sermos abraçados, embalados, é o que nos leva a aprender a alisar, acariciar, envolver. Ser alimentados com ternura, carregados nos braços, acariciados induz a um comportamento sexual solto, espontâneo. Inversamente, a parcimônia dos toques e sua frieza engendram uma atividade sexual despida de imaginação e de expansividade.
Muitos homens recusam carícias por terem sido educados de maneira dura. Já muitas mulheres sofreram de carência de ternura tátil na infância e mais tarde podem vir a sentir fome insaciável e procurar o contato sexual incessantemente, como se tivessem uma hipertrofia do desejo sexual; na verdade, porém, o que têm é enorme frustração de estímulos táteis, de toques amorosos.
Aprendemos a andar, a falar, a escrever. Aprendemos a cozinhar, a tocar guitarra, a brigar. Tudo se aprende, menos o erotismo. Ao contrário, tudo é feito para desaprendê-lo. A sociedade com suas leis e a religião com suas regras tudo fazem para esfriar, reprimir, culpabilizar esse belo instinto. Porém, a força da vida não se rende. Ao se humanizar, a sexualidade transforma-se em amor.
Precisamos aprender a viajar sobre a superfície da pele, despertando na passagem os pontos sensíveis e nos concentrando em certas zonas para delas extrair a quintessência. Fazer amor é um duplo perder-se. Implica entrega: perder a nós mesmos e nos perdermos no outro. Flutuar juntos, comunicar, tocar, dar e receber prazer para fazermos a excitação crescer, diminuir e tornar a crescer, para só então atingir o clímax.
Por Maria Helena Matarazzo*
*Maria Helena Matarazzo é sexóloga e autora de Amar é Preciso e Encontros, Desencontros & Reencontros.
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