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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dualidade



Ela se sentou e se cobriu com o lençol. Que hora mais estranha de se ter pudor! Mas não era pudor, era medo, porque naquele dia ela estava nua. Não apenas seu corpo se mostrava inteiro àquele homem que a possuíra, mas sua alma estava despida, tocável, ao alcance de qualquer coração ou mente... Naquele momento de verdade absoluta, ela se via totalmente entregue e teve medo.

O que ele faria se a percebesse assim? Talvez o fim de todo mistério e a certeza da conquista o deixasse tomado de tédio e desejando um outro alguém ainda não desvendado nem conquistado. Ou talvez ele também se despisse para ela! Talvez ele entendesse aquele momento supremo da entrega total, não apenas de dois corpos mas a fusão de dois seres que se completam, quem sabe ele também baixasse a guarda, se tornasse humano, e seria tão bom...

Mas a cama já estava fria, a sensação mágica já o tinha abandonado, prova disso era o barulho do chuveiro e a melodia fora de tom que ele cantarolava no banheiro. Ele já estava de volta à sua realidade de “ser sozinho”, apenas ela ainda permanecia sentada, enrolada nos lençóis macios pulsando e pensando entre ser natural ou ser ideal. Mas o que ele espera? Ela se pergunta. Qual seria o próximo olhar ideal, o sorriso esperado que lhe traria mais momentos como aquele: de calor, prazer e dúvidas? O que daria a ele o desejo de ter mais? Mais daquela mulher, que o preenchia em seus desejos e lhe oferecia um quase amor e um abraço quase terno.

Olhando pela janela enquanto o sol nasce lá fora ela sorri e admite para si mesma: Ela o ama! Pronto! Está acabado! Ela o ama e talvez isso seja motivo suficiente para que tudo termine ali, de uma vez. E se terminasse também seria bom, ao menos seu sono seria mais leve, sua consciência estaria mais leve e sua vida teria peso e medidas corretas para caber no que chamam por aí de felicidade. Não existem finais felizes para histórias como essas. Afinal, não existem finais para histórias como essas e isso traz uma ferida que sangra sempre, sem remédio, sem paliativo, sem palavras...

O barulho do chuveiro acabou. Ela logo vai reencontrar seu algoz e seu amor, e rapidamente ela decide: Continuar fingindo. Fingindo casualidade, falta de compromisso e de amor. Ela se levanta, solta os lençóis deixando a mostra toda sua beleza, e lhe diz sem olhar em seus olhos:

“ Por que não me acordou? Preciso ir! Já estou atrasada...”




Autora:
Cláudia Ferreira de Moura

E-mail: feiapracaramba@yahoo.com.br




Cláudia Ferreira de Moura (1977) é paulistana, casada e tenho um filho. Além de dona de casa e estudante de pedagogia, escreve, como diz, "por que é assim que
consigo organizar meu mundo. Amo as palavras e elas me completam".
Profere
conferências sobre relacionamentos.
Atualmente mora em Gravatal, Santa Catarina.




Agradecimento ao site: http://www.releituras.com/

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