Enquanto a frota de Vasco da Gama aguardava a partida, «um velho, de aspecto venerando, (…) tais palavras tirou do experto peito: - A que novos desastres determinas de levar estes reinos e esta gente? (…) Que promessas de reinos, e de minas d'ouro, que lhe farás tão facilmente?». Como nos conta Luís de Camões, a frota partiu para a Índia enquanto o velho vociferava no Restelo.
Hoje, os tempos são outros. Já não temos a ambição de descobrir a Índia e, menos ainda, de partir para uma aventura desconhecida. Apenas queríamos um comboio de alta velocidade que nos ligasse à Europa e um aeroporto que nos levasse a todos os continentes, em especial ao americano.
Os tempos também mudaram porque, com o aumento da esperança de vida e a redução da natalidade, existem hoje mais velhos que marinheiros. Além disso, as mulheres, que vivem mais tempo, assumiram protagonismo e têm a sua voz, que é muito ouvida e ainda bem.
Imaginemos então a cena nos dias de hoje. Em vez de um velho, existiria um coro deles, talvez com uma veneranda velha a dar o mote.
Então, a velha diria: «A que novos desastres determinas de levar estes reinos e esta gente?» Em pano de fundo, um coro de velhos responderia: «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade, a quem chamamos Fama!». Finalmente, a veneranda remataria: «Dura inquietação d'alma e da vida, fonte de desamparos e adultérios, sagaz consumidora conhecida de fazendas, de reinos e de impérios.»
Com tal cenário, a frota nem teria saído do estaleiro.
Hoje, os tempos são outros. Já não temos a ambição de descobrir a Índia e, menos ainda, de partir para uma aventura desconhecida. Apenas queríamos um comboio de alta velocidade que nos ligasse à Europa e um aeroporto que nos levasse a todos os continentes, em especial ao americano.
Os tempos também mudaram porque, com o aumento da esperança de vida e a redução da natalidade, existem hoje mais velhos que marinheiros. Além disso, as mulheres, que vivem mais tempo, assumiram protagonismo e têm a sua voz, que é muito ouvida e ainda bem.
Imaginemos então a cena nos dias de hoje. Em vez de um velho, existiria um coro deles, talvez com uma veneranda velha a dar o mote.
Então, a velha diria: «A que novos desastres determinas de levar estes reinos e esta gente?» Em pano de fundo, um coro de velhos responderia: «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade, a quem chamamos Fama!». Finalmente, a veneranda remataria: «Dura inquietação d'alma e da vida, fonte de desamparos e adultérios, sagaz consumidora conhecida de fazendas, de reinos e de impérios.»
Com tal cenário, a frota nem teria saído do estaleiro.
J.L. Pio Abreu
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