“Há excepções individuais claramente. A fisionomia geral. No entanto, é aquela.”
Por Guerra Junqueiro (1850, Bragança / + 1923 Lisboa)
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional, – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta; (...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro[i]; (...) Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, – como da roda de uma lotaria; A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca – rolhas; Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, – de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar;»
Guerra Junqueiro (1896) Pátria: Poemas Sociais e Políticos (p. 631/632). Lello & Irmão – Editores, Porto.
N.B. “Abílio Manuel GUERRA JUNQUEIRO – que viria a ser um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos e, na opinião de Unamuno, um dos maiores do mundo, «el primero de los poetas portugueses de hoy y uno de los mayores del mundo» (Por Tierras de Portugal y de España, 5.ª ed., Col. Austral, Madrid, 1960, pág.22).”
Post Scriptum: Quem tiver coragem, se for o caso, que adapte a Moçambique ou a Angola; S. Tomé e Príncipe e Guiné-B; Cabo Verde, Brasil ou Timor Lorosae. Mas só se der. Fica ao critério de cada um.
[i] “Se o Nazareno, entre ladrões, fosse hoje crucificado em Portugal, ao terceiro dia, em vez do Justo, ressuscitariam os bandidos. Ao terceiro dia? Que digo eu! Em 24 horas andavam na rua, sãos como peros, de farda agaloada e grã-cruz de Cristo.” (Guerra Junqueiro)
Agradecimento ao site http://macua.blogs.com/
Nota de 1lindomenino: Guerra Junqueiro foi um verdadeiro "profeta" dos políticos... de HOJE, em Portugal...!!! E de "outros" Países "lusófonos", claro...!!!
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