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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Oito meses



Tantos dias ao lado dela que perdera o referencial. Não sei como. Não sei quando. Como os russos na estação espacial que não volta pra casa. Não se sabe as horas. Nem onde. Nem porque. Mulher terrível aquela. Disforme. É como poderia imaginá-la caso longe dela estivesse: alguém que não tem forma, não tem hábitos, não tem defeitos nem qualidades.

"Querido, as compras”.

E o querido afastava-se de nós, ia o idiota buscar as sacas repletas de futilidades. O arroz era de caixinha. O feijão de lata. Verduras pré-cozidas. As frutas, cristalizadas. Nada naturalmente natural. Como se visto do fundo de uma sala em que o ar viciado há muito não permitia a inspiração completa, eu me encontrava. Meia inspiração. Dádiva para os que se contentam com pouco oxigênio. Eu não. Lente distante do foco habitual, via aquela mulher sem limites definidos com desconfiança. Passei a me questionar o porquê de estar tão junto dela, visto que não conseguia senti-Ia. Eu não me comunicava. Ela sempre fora incomunicável.

Ruídos de crianças não havia. Menos mal. Ela, indiferente. Instinto materno frustrado? Necessidade de auto-afirmação? Ela secamente me olhava, por poucos minutos. Não dispensava mais tanta atenção a mim. Não me pergunte desde quando, já disse que estava numa espécie de estação espacial.

"Vou sair", gritou batendo a porta da sala. Ou teria sido o vento?

Por que avisar sobre algo que não podia impedir nem aprovar?

"Olha só", disse ao telefone antes de sair, "não sei se poderei estar aí no horário. Trânsito engarrafado, sabe como é..."

Não ouvi mais nada. Que horário? Era para mim uma existência atemporal. Cheiro de maçãs. Era o que eu percebia, maçãs envelhecidas, persistindo com teimosia inconveniente.

Ela voltou. O apartamento de cortinas cerradas não permitia saber se era dia, fim de tarde, noitinha. Pensei em dar uma bronca daquelas, coisa de diretor de colégio para impressionar criança malcriada. Desisti. Não estou nem aí para ela. Pra toda a cidade. Pro mundo inteiro. Vermes corrosivos, acham que me incomodam.

Ela surgiu após longo banho. Parecia limpar-se da imundice das ruas, da imundice que fizera. Cheiro de maçã com creme hidratante. Este fresco, aquele irritante, levemente adocicado. Chegou perto, olhou-me firme nos olhos:

“Você não tem jeito mesmo!"

Beijou-me a testa, perguntou se estava tudo bem. Não respondi. Arrastei-me até a varanda, não teria condições de saltar: a grade, uma altura descomunal. Trouxe-me leite. Não sabia o porquê daquele afastamento, agora ofertava-me um leite estranho que não me servia. Fiquei imóvel, os olhos fixos no líquido branco sem graça. A Lagoa lá embaixo. Luzes poderosas coloriam a orla artificial, eu olhando, não entendendo. Descobrira algumas coisas, outras, apesar de bem à minha frente, permaneciam obscuras. Ela atendeu ao telefone:

“Ele está bem, um pouco quieto", disse quase num sussurro.

Pensei que ela era tudo e ao mesmo tempo um imenso abismo. Amava-a sem saber exatamente o que era amor, uma profundidade de sentimento que não me cabia. Ainda ao telefone:

"Fico preocupada de deixá-lo assim, algumas horas sozinho. Às vezes olha-me com estranheza, às vezes como se compreendesse todos os mistérios do universo. Nem parece ter apenas oito meses."


Autor: Moacyr Moreira



Moacyr Vergara de Godoy Moreira nasceu em 1972, em São Paulo (SP). Médico pela Escola Paulista de Medicina, é professor de redação e inglês. Cursa, atualmente, mestrado em Psicologia. Escreve para jornais e participa de antologias. É autor dos livros “República das Bicicletas” e “O Eu profundo”, ainda não publicados e de “Lâmina do Tempo e outras histórias do amor”, Ateliê Editorial, São Paulo (SP), 2002, pág. 29, de onde extraímos o texto ora apresentado.


Agradecimento ao Moacyr Moreira e ao site: http://www.releituras.com/

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