O sonho de ser mãe pode ter sido adiado por questões afetivas, financeiras, profissionais, mas não esquecido. É cada vez mais freqüente, casos de mulheres como Suzana, Jacqueline, Socorro, Claudemir, que desafiaram os riscos de complicações para transformar o desejo em realidade, mesmo que para isso seja necessário recorrer a técnicas de reprodução assistida. Enquanto uma mulher na faixa de 20 a 29 anos tem 22% de chance de engravidar a cada relação sexual com um parceiro sadio, entre 35 e 40 anos, cai para 12%. Acima de 40 anos, esse índice baixa para 8%.
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Elas ainda não são maioria, quando comparadas com mulheres mais jovens. Mas engravidar depois dos 35 anos é uma tendência mundial. No Brasil, não é diferente. Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que a proporção de nascimentos em mães acima dos 40 anos subiu, passando de 1,75% de nascidos vivos em 1996 para 1,95% em 2002. De acordo com a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio (PNDA) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Ceará, em 2006, mulheres na faixa etária de 35 a 39 tiveram 10 mil filhos. Mas a maior concentração, 40 mil, ocorreu dos 20 a 24 anos, fase considerada pelos especialistas como a ideal para ser mãe.
Fertilidade
A idade é uma das grandes vilãs da fertilidade. Mestre em psicologia, Flávia Soares Parente, observa que, geralmente, aos 35 anos a mulher se depara com a dúvida se deve ser mãe ou não. "A sociedade exige da mulher que não quer ser mãe e esta fica ansiosa para conciliar a maternidade com os outros projetos de vida". Ela, que defendeu a dissertação de mestrado sobre o tema "Ter ou não ter filhos: sobre a maternidade em tempos de reprodução assistida", ressalta que primeiro o casal procura ter segurança para depois pensar no projeto de ter filhos. "Essa estabilidade ocorre, geralmente, por volta dos 30 anos, fase que coincide com o declínio da processo reprodutivo da mulher."
Fernando Aguiar, especialista em reprodução assistida, diz que cada vez mais a mulher está retardando a primeira gestação para realizar seus projetos. "O sonho foi adiado, mas não esquecido e as técnicas de reprodução assistida oferecem meios para a concretização desse sonho." Fábio Eugênio Rodrigues e Evangelista Torquato, ginecologistas especialistas em reprodução humana, ressaltam que, com o avançar dos anos, diminui a qualidade dos óvulos liberados a cada ciclo ovulatório pela mulher, o que diminui as chances de gravidez espontânea ou mesmo com tratamentos de reprodução assistida.
Apesar da disponibilidade de técnicas avançadas que tornam possível a gravidez tardia, o coordenador do serviço de gestação de alto risco da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), Edson Lucena, alerta para a importância de uma avaliação rigorosa com obstetra antes de iniciar a preparação para ser mãe. "A gravidez funciona como teste de esforço para todos os órgãos, aqueles que estão no limite tendem a apresentar problemas." A gestação com mais de 35 anos pode ser complicada caso haja alguma doença associada à idade, como hipertensão, diabete, insuficiência vascular ou aborto anterior.
A psicóloga Luciana Leis observa que não é preciso desistir de uma carreira bem-sucedida para ser mãe. Ela acrescenta que hoje as profissionais estão se dando conta de que a maternidade potencializa as competências e ajuda na gestão da carreira e dos negócios. A psicóloga, que é especializada no atendimento a casais que enfrentam problemas de fertilidade faz um alerta: "Quem pensa que uma excelente mãe é aquela que acompanha tudo que o filho faz, o tempo todo, engana-se, pois uma relação saudável com o filho é construída na qualidade do vínculo mãe-criança e isso não tem a ver com um maior número de horas disponíveis para ele."
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