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domingo, 5 de julho de 2009

Estórias de outras Lisboas


"As autoridades competentes estão reunidas de emergência... ainda não se sabe se as forças militares intra-regionais irão entrar em campo, no entanto temos notícias de uma considerável aglomeração de forças hostis a sul da capital... será actualizada sempre que possível...."

Mariana tinha acabado com o namorado do momento. Cansava-se depressa. E depois, todos os rapazes da sua idade só pensavam em sexo. E de sexo estava ela farta. Já não podia com eles, os rapazes do bairro. Sempre a mesma coisa. Os dias passavam-se sem que nada se passasse e sempre a mesma coisa. É o que da passar o verão em casa. Uma m*, é o que é.

...Mas isso são pormenores.

Desceu a escadaria que ia dar ao rio. Mariana gostava de ir passear até à beira-rio. Foi aí que conhecera o seu primeiro amor. Foi aí que tivera o seu primeiro encontro. Foi aí que tivera o seu primeiro desgosto.

A lua ia já bem alto quando Mariana se sentou. Pés a roçar a superfície das águas revoltas de um Tejo de outras eras. Mariana não o sabia.

Havia muitas coisas que Mariana não sabia. Essa era só uma delas. Ela tinha consciência disso mas não se deixava incomodar. A escola da vida era tudo o que necessitava. Os estudos são para os ricos, dizia com frequência. Ela estava mais à vontade com as ruas de Alfama do que os outros, os ricos alguma vez estariam. Ali aprendia-se muita coisa. Nem mesmo o maior dos literatos poderia alguma vez saber o que era viver ali, onde as ruas são mais pequenas que os corredores dos literatos.

Não sei se deveria estar a falar em literatos, com o respeito que lhes tenho, mas limito-me a relatar este episódio da vida de Mariana tal qual guia turístico. Sorriso lavado nos dentes e um desejo escondido de sair daqui para fora.

Mariana olhou para cima, em direcção ao sul. Encontrou a outra margem. Desejou ter asas para voar. Queria saber o que havia do outro lado.
Mariana nunca havia saído de Lisboa, nem mesmo para ir à terra de seus avós. Nunca se perguntara porquê. Nunca se importara com isso. O seu mundo chegava-lhe, enchia-lhe as medidas. Mas o sul, a outra margem, ali estava o seu pote de ouro. Embora raramente tivesse visto o arco-íris, sabia perfeitamente que era ali que se escondia o pote de ouro. O "seu" pote de ouro. Isso Mariana sabia.

Uma lágrima que timidamente se tinha escondido durante a derradeira discussão com o agora ex-namorado saltou aliviada. Mas não foi por esse quase-amor desfeito. Mariana sabia poupar os seus recursos naturais, incluindo as suas lágrimas. Havia muito poucas coisas com que Mariana chorara durante a sua curta vida. Nem se lembrava quais. Não deveriam ter sido assim tão marcantes, para que não se lembrasse. Sendo assim, então provavelmente teriam sido uma perda de tempo e de lágrimas. Mariana agora chorava pelo rio. Ela amava aquele rio, mas era o rio que a impedia de ir ter com o seu pote de ouro.

Muitas vezes tinha ouvido as estórias que os mais velhos contavam da travessia do Tejo. Houve quem o tivesse tentado a nado, sem sucesso.
Outrora, noutros tempos de que já a memória nos traía, teriam existido pontes, dizem. Haviam veículos que fariam a travessia sobre as águas. Hoje de nada serviriam. As marés tinham subido e os barcos já não atravessavam o Tejo. Pelo menos para o outro lado. Hoje Mariana chorava por isso. Não percebia porque não se podia atravessar para outro lado. Sabia, pelos mais velhos, que costumavam ser parte do mesmo país. Sabia que assim era antes do que eles chamavam de praga dos R's. Hoje estavam em disputas constantes. Lutava-se pela soberania do rio. Mas o rio não é de ninguém, pensava Mariana. O rio é alimento do mar. O rio é o rio, nada mais. Muitas vezes mandavam-na calar. Diziam-lhe que estava a ser subversiva, que se teriam que desculpar com a polícia pela sua impertinência, usando como motivo para tal comportamento a sua idade e ignorância. Mariana sabia que era ignorante. Não precisava que lho lembrassem.

E agora, que fazer? Sentada à beira rio, pés molhados, sonhando com o "seu pote de ouro", Mariana deixava derramar mais lágrimas do que queria.
Mariana estava a chegar ao fim das suas forças. Já não tinha muitos motivos porque poupar os seus recursos. Talvez fosse melhor ir para casa.
Amanhã tinha que ir trabalhar na fábrica de reciclagem de plásticos de um político qualquer. Um daqueles que apareciam na televisão a falar sobre o ambiente. Um daqueles que não o respeitavam. Mais um. Mariana sabia-o, mesmo sem o saber. Tinha-o lido nos olhos do patrão. Político.

Sim, Mariana sabia-o...

O dia chegou como tinha ido. Frio, cinzento, escuro, obscuro. Tudo isso contribuía para o mal estar geral da população. Mas com já ia sendo costume e os costumes muitas vezes tornam-se hábitos que por sua vez se tornam tradições, já ninguém se importava muito com isso.

Mariana já se tinha lavado, vestido e alimentado quando os primeiros raios de sol apareceram, comodamente escondidos entre duas ou três nuvens. Mais uma vez desceu as escadas que a levavam ao rio. Fazia sempre este caminho, embora fosse o mais longo. Gostava de acompanhar o rio enquanto ia para o trabalho. Por vezes parecia-lhe que o rio corria em sentido contrário só para a acompanhar, mas devia ser o sono que ainda persistia em ocupar-lhe o corpo e a alma a pregar-lhe uma partida. Olhava para a outra margem. Para o seu pote de ouro.

"Temos confirmação de um ataque... teme-se o desencadear de uma guerra já há muito contida..."

Mariana viu. Mariana viu tudo. O seu pote de ouro. Mariana viu-o. Brilhava como nunca vira nada brilhar. Nem mesmo o sol, naqueles filmes americanos que via na televisão. Maria soube então que era aquele o seu pote de ouro.
O seu e de mais ninguém. Tinha-lhe sorrido, iluminava-a, a ela e ao rio.
Sentiu que levantara voo. Nunca mais teria que se preocupar com a reciclagem de plásticos, com o olhar escuro e no entanto transparente do seu patrão. Político. Nunca mais teria que descer as escadas para ficar só, nem mesmo os rapazes lá do bairro a incomodariam. Mariana soube. Pela primeira vez na vida soube. Tudo aquilo que nunca soubera. Mesmo aquilo que os mais velhos não ousaram contar-lhe. O seu pote de ouro estava ali, cada vez mais perto. Mariana viu-o...

Mariana nunca mais viu...



Ricardo Vercesi - Lisboa, Portugal

(publicado na grafia original de Portugal)

Agradecimentos ao Ricardo e ao Site: http://www.portugal-linha.pt/

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