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sábado, 26 de setembro de 2009

O mural que não viu Abril

Murais no 25ABR74 em PORTUGAL: uma "fase" rica de envolvimento popular.


A parede ficava lá ao cimo depois de uma escada que subia ás águas furtadas. Naquele espaço mal iluminado, por uma claraboia que em dias escuros pouca luz deixaria por certo passar, encontrava-se o mural. Em tons terra estendiam-se a todo o comprimento figuras de ceifeiras de rostos lunares com seus lenços tapando as caras, malteses em trabalho nos campos,carroças de ciganos, feixes de trigo acabados de ceifar, bilhas de água sossegadas descansando na sombra escassa, que uma azinheira desenhava na terra. Um espanto, que se abria num sotão escuro de uma arrecadação onde pouca gente entrava.

A casa era velha e fora construida quando a vila ainda não era subúrbio. A meio da rua entre os plátanos apareciam já os primeiros prédios a aventurar-se, timidos invasores, no espaço que um dia acabariam por encher. Mas agora a vivenda sobressaia, pela traça bem desenhada e airosa, das outras construções. Não era dificil achá-la, com a sua porta grande de madeira com vidros foscos protegidos por arabesco de metal e maçanetas ladeando a fechadura. Dava entrada para um corredor comprido, que começava depois de três degraus, e de onde se entrava para as outras divisões. Fui lá a primeira vez para executar um orçamento. Era preciso electrificar o sotão.

A mulher que parecia ser a dona da casa recebeu-me na sala e mandou-me sentar o que não era habitual na época. Afinal não passava de um simples electricista. Só depois me conduziu através das escadas e pude pela primeira vez contemplar o mural. Tirei as medidas, calculei os sitios das tomadas e interruptores e o trajecto por onde passaria o fio de modo a não tocar a pintura que começava já a sofrer a erosão do tempo e das humidades. Acordado o preço, marcou-se o dia e despedi-me depois de um café servido por uma empregada com farda de folhos ainda nova e certamente interna na casa.

Sai a pensar na harmonia de maneiras da senhora, na delicadeza graciosa da criada e na beleza escondida do mural. Nunca tinha trabalhado numa casa assim. Quase sempre os pedidos vinham de gente modesta para colocar novas lampadas ou remediar curtos circuitos que iam escurrecendo de tempos a tempos as casas. Fazia esses trabalhos nas horas livres que a Escola Industrial e o emprego deixavam sobrar. Mais no Verão, nas férias escolares cheias de dias longos, quando a luz deixava ainda muitas horas para trabalhar.

E a instalação lá se fez entrecortada por longas distrações, seguindo as linhas, descobrindo os pormenores dos traços, pensando nas misturas das tintas e na técnica do pintor do mural. Gostava já demais de pintura embora não sonhasse sequer com a ideia de um curso de Belas-Artes. Isso não era para gente como eu e ponto final.

Foi no último dia que a boa senhora me apanhou distraido. "Gosta desse mural não gosta?". Baixei os olhos timido. Gostar era pouco, fascinava-me o talento do pintor que na sombra desenhara as figuras, longe da luz, talvez de noite, como que escondendo algo que, achava eu, ficaria melhor noutro local à vista de todos. Nessa altura não sabia nada de politica e nem sequer conhecia essa palavra. "Foi o meu genro que o desenhou e pintou quando namorava a minha filha" disse sorrindo com malicia "este sotão era o lugar deles". Faiscou-me na ideia que talvez ele não se importasse de dar algumas lições da sua arte e perante a simpatia do trato arrisquei perguntar pelo pintor. A resposta veio triste envolvida em lágrimas silenciosas. "Está preso". Pedi desculpa atarantado. A mulher desceu a escadas e pouco depois dei por terminado o trabalho.

Durante muito tempo não voltei a passar por aquele lugar, tão distante dos meus percursos habituais. Mais tarde emigrei em fuga a uma guerra que não queria e fiquei muito anos fora do pais. Voltei com a liberdade a um pais novo, e pintei então muitos murais, numa fúria de criar com cores e luz cenas do futuro a encher praças e ruas. E quiz rever a obra que me tinha encantado. Já não existia. O senhorio ficara com a casa por morte da velha inquilina e num desvario alarve, assustado com o reconhecimento do pintor mártir do fascismo e os boatos de ocupações, tinha mandado apagá-lo, pintando todo o sotão de um verde feio e escuro de garrafa.


André de Agualva

S. João do Estoril, Portugal

Agradecimento ao Site: http://www.portugal-linha.pt/

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